segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

The Romitas

Uma das maiores tradições familiares existentes no mundo dos quadrinhos. Dois homens, mais de meio século de serviços ao Universo Marvel. Um é o que se pode considerar uma lenda dos quadrinhos. Outro, alavancado pelo nome do pai, mas com seu próprio estilo, se tornou um dos desenhistas-referências de todo Universo Marvel. É com grande prazer e honra que eu lhes trago uma curta história da vida de John Romita e John Romita Jr.


Gwen Stacy




O ano era 1947. John Romita se formava na Faculdade de Artes Industriais. No início, alguns roteiros de quadrinhos vinham para ele, mas a fragilidade do material fazia com que sequer este fosse publicado. Pelo menos Romita recebia pelo serviço.Em 1949, Romita trabalhava para a Forbes Litografia, tirando 30 dólares por semana. Em um destes lances do destino, um amigo do colegial esbarrou nele no metrô e ofereceu 20 dólares para que ele desenhasse 10 páginas de uma história de um escritor anônimo.

John Romita


Seu nome não apareceria nas publicações, mas ele receberia um extra, que era muito bem vindo. Esse amigo trabalhava para uma das antecessoras da Marvel Comics, a Timely Comics, o que deu a oportunidade de ouro a Romita: conhecer o editor chefe e diretor de arte Stan Lee.
Começando a trabalhar para a Atlas Comics (outra antecessora da Marvel), Romita desenhava faroeste, horror, guerra e romance.
O primeiro contato com um super-herói Marvel foi em 1953 quando a Atlas relançou o Capitão América.
Logo após, foi contratado pela DC para desenhar romances e lá ficaria por dez longos anos. Nesse meio tempo, nascia John Romita Jr em 1956.
Ao voltar para a agora Marvel Comics, Romita não se sentia apto a desenhar quadrinhos e queria apenas fazer arte final. Stan Lee concordou, mas na primeira oportunidade que teve, passou para ele alguns rascunhos que Dick Ayers havia feito em uma história do Demolidor e ele desaprovara.
O que você faria com essa página?? Perguntou Stan a Romita. Este então pegou um papel e começou a desenhar. Stan então pediu que desenhasse o Demolidor do seu jeito. Em um grande papel, ele pegou e o desenhou se balançando numa corda. Stan adorou.

Demolidor e Aranha


Logo ele estava desenhando uma história em duas partes do Demolidor em que o Homem Aranha era convidado. Usando os layouts de Jack Kirby, Romita desenhava e aprendia o estilo de contar histórias que a Marvel tinha. Logo Steve Ditko, co-criador do Homem Aranha iria sair dos desenhos deste. Romita o sucederia e imporia seu estilo, mesmo que inicialmente tentasse copiar a Ditko.
O estilo de Romita seria base para os próximos vinte anos de escalador de paredes, um heróis mais forte e com visual heróico do que o então magricelo desenhado por Ditko. Peter estava crescendo e assim estava sendo desenhado.
Mary Jane Watson apareceu pela primeira vez com Romita, bem como Robbie Robertson e o Capitão George Stacy. A vida de faculdade de Peter, MJ,Gwen, Harry Osborne e Flash Thompson foi melhor retratada nessa época. Falava-se sobre guerra do Vietnã, direitos civis, racismo, em uma época em que a grande revolução dos quadrinhos estava começando.

Peter e Gwen


Gil Kane por volta de 1970 começou a alternar-se desenhista das revistas do Aranha. Foram nesses anos maravilhosos em que duas histórias eternas foram publicadas. Em uma delas, Harry Osborne tem uma overdose de LSD e quase morre. Esta causou extremo furor pois a agência de controle de drogas e tabaco dos EUA não a aprovou, especialmente por ser de uma temática totalmente adulta. A outra, segundo muitos, uma das melhores histórias do Homem Aranha: A Noite em que Gwen Stacy morreu (Amazing Spider-Man vol.1: 121-122). Primeiro porque na época, personagens tão famosos não morriam e segundo porque a profundidade daquele roteiro marcaria duas coisas, a personalidade de Mary Jane que iria aparecer e fazer parte da vida de Peter, assim como o fim da era de Prata da Marvel, direcionando os quadrinhos para um lado mais negro e cínico que viria com os anos 70 e 80.
A Marvel despontava como a Casa das Idéias. O jovem John Romita Jr. ia visitar seu pai nos estúdios da Marvel e se fascinando pelo mundo dos quadrinhos. Estudando desenho por conta própria, começou a trabalhar na Marvel seguindo a tradição de seu pai.

John Romita Jr


John Romita Jr. começaria sua carreira desenhando capas de reedições na Marvel Inglesa.Em 1977 desenharia sua primeira revista na Marvel Americana: uma história de seis partes do Homem Aranha, que seu pai havia deixado fazia quatro anos. Em 1978, juntamente de David Michelinie tomou as rédeas do Homem de Ferro. Na década de 80, passou pelo Homem Aranha, X-Men e Demolidor, sendo que participou da época em que X-Men estava em seu auge nas mãos de Chris Claremont.

The Romitas


No começo da década de 90, Frank Miller escrevera e ele desenhara Demolidor ? O Homem Sem Medo, uma espécie de Ano Um. Para mim, uma daquelas histórias que se deve ter em casa de qualquer forma. Passou então por Justiceiro, Cable, Thor, Homem de Ferro, Hulk, Wolverine (de Mark Millar), Pantera Negra, Sentinela entre outros.
Em 2000, desenhou Amazing Spider-Man #500, em que seu pai desenhou as últimas páginas da revista, celebrando os anos em que ambos colaboraram com esse personagem.
O estilo de desenho deste lembra muito o de Frank Miller. Talvez posteriormente ao sucesso de Miller na década de 80, Romita o tenha copiado, mas o que se pode notar é que os traços deste são mais fortes e cheios de informações, cada página é uma cena de filme. Previamente já havia desenhado a primeira revista dos X-Men que eu comprei, X-Men #24, lançada em formatinho pela Abril, na qual ocorria o primeiro julgamento de Magneto. Posteriormente, seguindo a tradição de seu pai, participou ativamente de grandes sagas da Marvel, especialmente no que se referia ao Homem Aranha e X-Men.

Thor


O que há de se perceber é o quanto os tempos mudaram. Na época de Romita pai, havia poucos e heróicos artistas que faziam os quadrinhos e eventualmente se tornavam editores e chefes de arte. Hoje em dia, este cargo é simplesmente abominado, especialmente em razão de que poucos tem coragem de arriscar tudo que já conquistaram com jogadas editoriais.

Uma coisa que muito me marcou foi que alguns anos atrás, Stan Lee e John Romita se juntaram para uma edição de Homem Aranha com uma espécie de flashback da época em que Peter e Gwen namoravam, exatamente o último encontro dos dois antes da morte desta nas mãos do Duende. Sempre digo que em termos emocionais foi uma das melhores histórias que eu já li. Havia toda uma inocência que hoje em dia é difícil, senão impossível de se encontrar nos quadrinhos. Havia ali todo sentimento de Peter se relembrando daquela mulher, aquela que ele sempre amou e sempre irá amar acima de tudo. Os desenhos de Romita só ressaltavam aquela saudade e dor que ele sentia.

Morte de Gwen


Romita pai sabia trabalhar a emoção do leitor como se passasse uma pequena novela da vida dos heróis, especialmente nesta fase Peter e Gwen. Os leitores mais antigos ou que já leram, sabem do que eu estou falando. Havia um sentimento de dor em Peter, o peso do mundo estava em suas costas diariamente, e ver aquela moça morrer em seus braços, olha, foi um dos momentos mais marcantes de toda história da Marvel.
Romita Jr. sabia transpor as barreiras das emoções com muita ação e personagens mais marrentos, constantemente com a barba por fazer e esperando que o próximo tiroteio começasse. Seu Justiceiro será sempre um ícone estilo Charles Bronson.

Justiceiro


As cenas de ação, cheias de explosões esfumaçadas, tiros para todos os lados e pancadaria sem limite. Talvez ele seja um dos melhores desenhistas de cenas de personagens em ação da atualidade. A evolução de seu estilo é nítida, e a influência de muitos desenhistas é notada facilmente. Nem por isso, ele deixará de ser um ícone pela enorme contribuição que sempre deu à Marvel.

Isso foi só um pouco da carreira destes dois grandes desenhistas. Na próxima edição: The Kuberts.

J.R. Dib

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