quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Pantera Negra: Pesos na Balança

Black Panther #22

O rei T’challa de Wakanda é um símbolo no Universo Marvel. Símbolo de que uma parcela considerável da população da Terra – os africanos e seus descendentes –, ao contrário do que foi historicamente construído e ainda veladamente afirmado, não tem nada de inferior em relação ao restante das pessoas do planeta. A questão racial é um dos temas principais da revista do Pantera Negra, e, já que as histórias são produzidas nos EUA, acaba centrada muito na luta por igualdade da minoria negra, marcada de forma profunda na história daquele país. A revista também tem a política internacional como um de seus destaques, e ambos os temas se convergem de forma explícita na história de Marvel Action 11. A pena é que o roteirista Reginald Hudlin dá várias patinadas ao abordar alguns desses temas.

Essa edição começa com Jim Rhodes, amigo pessoal de Tony Stark, que já vestiu a armadura de Homem de Ferro e de Máquina de Combate, e atualmente liderando os sentinelas da UNI, refletindo um pouco sobre episódios do passado dos EUA que tocam nos assuntos lei, direitos civis e intervenção do governo na vida das pessoas. O motivo de tal reflexão, é claro, é a atual situação vivida no país: a Lei de registro e a Guerra Civil. O problema que Rhodes deve enfrentar agora é ter certeza de em quem confiar dessa vez. Que perspectiva assumir?

Pantera Negra: Guerra Civil

Ao fundo dessas questões, vemos Tempestade e Pantera Negra tentando ganhar a aliança de Brian Bradock, o Capitão Britânia, para a organização de heróis não-americanos, proposta por Namor na edição passada, que teria a liderança de T’challa e o objetivo de proteger o resto do mundo caso a lei de registro avançasse além dos 50 estados. Brian não se anima muito, já que os líderes dos pró-registro são heróis que ele respeita muito. Que não fariam a coisa errada. Mesmo com Ororo dizendo que os governos temem e querem controlar os super-humanos, não obtém sucesso e, desapontada, sai sem a aliança. A decepção de Tempestade se estende à “neutralidade” dos X-Men (ainda que nem todos na Mansão concordem com isso, ao que parece), o que não aconteceria se ela ainda liderasse os mutantes. Por fim, Bradock não recupera a Espada Ébano, tesouro britânico usado na tentativa de assassinato do Pantera, que a mantém agora entre seu equipamento até não precisar mais dela.

A preocupação do governo dos EUA com a escalada de ações diplomáticas – que aumentam a popularidade da monarquia wakandiana – fica cada vez maior. A solução é desmoralizar os oponentes. T’challa conta a Ororo que suas primeiras tentativas contra o registro são políticas, já que busca influenciar o Partido Conservador americano – cuja plataforma é extremamente liberal – a ver a lei de registro como uma intervenção exacerbada do governo na vida civil. Chegando a Washington, uma cena curiosa. Como falamos, a popularidade do casal com a comunidade negra é grande, mas a forma como ela é noticiada é ambígua. Vemos dois repórteres, de emissoras diferentes, transmitindo a ocasião de maneiras distintas. Um trata a manifestação (que pelas ilustrações, é pacífica, com palavras de recepção calorosa e apenas isso) como se fosse um aglomerado de furiosos arruaceiros. Ele se preocupa em falar com o responsável pela segurança, como se uma rebelião estivesse prestes a explodir, e insinua que o casal real detonaria tais ações, sem entrevistar sequer um presente. O outro exalta o entusiasmo das pessoas ao redor da Casa Branca, entrevista um pai que leva sua filha nas costas, dando-nos a impressão de que os “manifestantes furiosos” não são nada monstruosos.?

Pantera Negra: Guerra Civil

O responsável pela segurança na Casa Branca é Rhodes, que parece muito tenso com a situação, mas se prende ao fato de estar obedecendo a ordens e irá cumpri-las, independente da situação. É então que a armadilha é ativada. Na Casa Branca, Ororo é obrigada a assinar a lei de registro, o que é visto como uma violação de sua imunidade diplomática e uma ofensa a um país amigo dos EUA. Sabendo ser monitorado, T’Challa demonstra seu desapontamento com Stark, já que seu objetivo ali era conversar. E os dois se retiram do local..?

Pantera Negra: Guerra Civil

Lá fora, os manifestantes estranham a rápida “visita”, mas começam a se empolgar com a presença do casal real de Wakanda, e gritam palavras contra a guerra. Mas a mesma menininha que estava nas costas do pai, acaba caindo no chão. Em uma ação instintiva, o Pantera salta para ajuda-la. Era o gatilho que os agentes do governo americano queriam. Esse simples gesto é visto como um ataque. Ao entregar a menina a seu pai, T’Challa vê um dos sentinelas da UNI dar voz de prisão a Ororo, ainda que seu piloto, Rhodes, não tenha visto nada de errado. Seguindo ordens, seguindo ordens....?

Pantera Negra: Guerra Civil

Os dois conseguem derrubar os agentes e o sentinela. E, quando Rhodes está prestes a ser surrado por manifestantes, que não entendem como alguém que, para eles, deveria se identificar com o Pantera, o estaria atacando, T’Challa o salva. Hudlin tenta mostrar aqui que as posições radicais de ambos os lados de uma questão complexa como essa não são benignas. Mas, em minha opinião, a situação criada por ele parece forçada demais.

Porém, quando Rhodes se vê salvo, o Homem de Ferro chega e age de forma intempestiva, atacando o Pantera e Ororo. O orgulho de T’Challa bate de frente com o de Tony, mas, novamente, Hudlin peca, já que seu Homem de Ferro é cabeça dura demais. Até mesmo para o de Guerra Civil. Talvez seria uma forma de extravasar a preocupação causada por ver mais um amigo como oponente, mas Stark parece caricato demais. Os dois quase se matam, com o Pantera usando uma armadura poderosíssima e a Espada Ébano. Quem os impede é Rhodes, que consegue deter o ímpeto de Tony..?

Pantera Negra: Guerra Civil

O Pantera, porém, diz-se preocupado com o exagero das ações do governo dos EUA e de seus agentes (incluindo o Homem de Ferro entre eles), assim como outros lugares do mundo também estão. Afirma que continuará nos EUA como diplomata, para reunir informações suficientes e não tirar conclusões precipitadas, dizendo a Tony que ele está cego para o descontrole trazido por essa Guerra Civil. Ororo e T’Challa permanecem em solo americano e encontram o Capitão América na próxima edição de sua Turnê Mundial.


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